"As pessoas ‘normais’ nunca vão entender, ou se entenderem irão ignorar. O fato é: Ser bailarino não tem preço!Você inicia um ano cheio de energia, cheio de disposição, sua a camisa, se enche de dor em incontáveis horas de aulas, chora de dor, sofre com cada novo exercício, mas está lá, no outro dia, com um sorriso no rosto e pronto para começar tudo de novo. Os dias vão passando, a dor não, ela só aumenta, mas você não se importa, pois todo bailarino sabe que sem dor não há glória... Os meses vão passando, você continua se esforçando, as estações mudam e chega o inverno, o grande inimigo de aquecimento em manhãs cinzentas e frias, mas o bom bailarino ainda está lá, firme na sua meta. E chega a época das coreografias novas, e o bailarino está lá, imaginando o que está por vir e acha que está preparado para qualquer coisa após meses exaustivos de aulas e preparações. Mas o seu professor, ou no meu caso, professora, te surpreende e você descobre que ainda há muito a suar até chegar nos palcos. Está sempre atento às explicações, aos puxões de orelha, até mesmo quando não são para ele...
Com o tempo, ensaiando, suando, se esforçando, começa a se sentir confiante, uma confiança pequenininha, que vai surgindo aos poucos e quando percebe, está se achando o rei dos palcos, que a apresentação pode ser no dia seguinte que saberá o que fazer. Mas ainda falta tempo, ainda há muitos ensaios, muitos deles até tarde da noite e que recomeçarão cedo no outro dia, mas está lá, firme e forte, com um sorriso no rosto, pronto para dançar. O ballet passa a ser sua segunda casa, passa a maior parte do seu dia ensaiando e só vai a casa para dormir. Parece um sonho, mas a realidade não é tão doce assim! É cansativo, exaustivo, maçante, desgastante e estressante. Mas fazer o que? São ócios do ofício.
E então, como num passe de mágica, chega o dia da apresentação! “Meu Deus! Já? Como o ano pode passar tão rápido?” “Estou morrendo de medo! Estou tremendo!” “A plateia está lotada!” E não há para onde fugir, o jeito é encarar centenas de pessoas de frente, com um sorriso no rosto, como quem diz: “Não doí nada, é super fácil!” Mas por dentro está tenso, “o que vão dizer de mim?”
Mas apesar disso tudo, sobe no palco e descobre que nunca esteve no lugar mais certo! E logo o medo se transforma em leveza, alegria, afinal de contas, dançar é amor, é paixão, é puro, é genuíno! O bailarino dança como se não houvesse amanhã, mas ele sabe que existe e que amanhã serão fotografias, filmagens e lembranças...
Então quando assistir alguém dançando, aplauda, pois por trás de minutos de uma coreografia, existe anos de trabalho e dedicação, por trás daquele sorriso existe uma dor, nos pés, nas pernas, no corpo... Por dentro daquele corpo que dança existe uma alma que só é completa por ter um corpo que lhe permite expressar suas emoções através da dança!
Quando ver alguém dançando, sinta-se grato por poder compartilhar com aquele bailarino sua alma, sinta-se agradecido por ser uma das poucas pessoas que tem o privilégio de vivenciar uma obra tão perfeita e tão pouco valorizada.
Por isso eu digo: SER BAILARINO NÃO TEM PREÇO! "
